Abiove contesta campanha internacional para desmatamento zero no cerrado brasileiro
Associação das indústrias não vê risco de perda de mercado com avanço da campanha e se posiciona contra o desmatamento ilegal, o que é bem diferente de desmatamento zero no cerrado
Fábio Trigueirinho, secretário geral da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) — que participou semana passada de uma missão produtores brasileiros na Europa (road show da Soja Plus) em torno da sustentabilidade da produção brasileira — acabou se deparando com uma campanha internacional em andamento, que prega o desmatamento zero no Cerrado brasileiro.
ONGs ambientalistas, capítaneadas pela WWF (entidade liderada pelo Príncipe Charles, da Inglaterra), querem impedir o avanço da agricultura na região do Matopiba. Os ambientalistas europeus planejam repetir o êxito conseguido com a moratória do plantio na Amazonia Legal, desta vez em toda a área do Cerrado brasileiro.
Só que, ao contrário da campanha na Amazônia, a Abiobe não aceitou curvar-se à pressão ambientalista, mesmo sabendo que 20 grandes empresas multinacionais de alimentos já assinaram o manfesto idealizado pela WWF.
Segundo Trigueirinho, a discussão em torno de uma política de desmatamento só é válida para os plantios “ilegais”, fora do Código Florestal, mas é inaceitável para a produção que segue os ditames da Lei ambiental brasileira.
— “Não abriremos mão do direito conquistado pelo produtor brasileiro de converter áreas do Cerrado em produção de alimentos”, afirmou o secretário geral da Abiove.
Hoje o Código Florestal permite plantio em 65% das áreas particulares, com preservação de 35% de matas nativas existentes dentro das propriedades.
Trigueirinho salienta que os mecanismos para combater o desmatamento ilegal contam com a atuação da Abiove, por ser essa uma meta assinada pelo Brasil na COP21, em Paris. Mas, agora, a realidade brasleira já é outra, diz o dirigente, baseando nos dados da Embrapa Monitoramento por Satélite que provam que o País preserva 63% de seu território, sendo que 36% dessa preservação acontece dentro das propriedades particulares.
— E essa sustentabilidade da agricultura brasileira foi apresentada aos europeus, para espanto dos dirigentes das empresas importadoras que desconheciam a realidade brasileira. “Estamos virando o jogo” salientou Trigueirinho.
Na ocasião da visita (feita à Inglaterra, Bélgica e Holanda) os brasileiros explicaram a política existente em torno do Código Florestal e do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que foi bem recebida pelos europeus. Também foram demonstrados programas do setor, como o Soja Plus, que capacita produtores a cumprir o código e a legislação trabalhista.
No entanto, 20 empresas multinacionais de alimentos assinaram o documento das ONGs, exigindo a moratória no Cerrado, situação que é vista como “retrocesso” por Trigueirinho, por ser o Brasil “o país que mais está contribuindo em redução de emissão”.
Dentre estas empresas estão varejistas e indústrias de alimentos como a Lever, a Nestlé e grandes redes de supermercados compradores de produtos brasileiros. Trigueirinho acredita que a “pressão não resolverá problema nenhum, só agudizará o confronto” e que há outras formas de resolver essa situação, como o diálogo técnico, baseado nos fatos.da nova realidade da agricultura brasileira.
Neste sentido, a recomendação do secretário para os produtores é de que intensifiquem essas informações junto à sociedade urbana para que este fator se acelere, bem como, no plano interno, que os produtores respeitem e cumpram o Código Florestal e a legislação trabalhista vigentes.
Fonte: Notícias Agrícolas