Conter o desmatamento não é suficiente

Estudo internacional adverte sobre possíveis efeitos das ações humanas em florestas tropicais

 

Juliana Brocanelli

Nem só de combate ao desmatamento sobrevivem as florestas tropicais. Estudo assinado por 18 instituições internacionais, dentre elas a Escola de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP, mostrou que é preciso considerar outras ações  humanas sobre a perda da biodiversidade da Floresta Amazônica.

Exploração madeireira ilegal, incêndios florestais, poluição do meio ambiente e fragmentação de áreas florestais remanescentes são o que os cientistas chamam de “perturbação antropogênica”; ou seja, ações humanas que de alguma forma desarranjam a ordem natural das florestas.

De acordo com os pesquisadores, é preciso repensar as leis e estratégias de conservação das florestas tropicais, uma vez que os efeitos das perturbações antropogênicas resultam em perda de biodiversidade comparável àquela causada pelo desmatamento.

O estudo “Perturbação antropogênica pode ser tão importante quanto o desmatamento na condução de perda de biodiversidade tropical” mediu o impacto das ações humanas  a partir da análise de 1.538 espécies de árvores, 460 de aves e 156 de besouros encontrados na Amazônia paraense.

O professor Silvio Frosini de Barros Ferraz, docente da Esalq e um dos cientistas que integraram a pesquisa, conta que houve intenso trabalho de campo nas florestas dos municípios paraenses de Paragominas e Santarém por cerca de um ano. O estado foi escolhido por apresentar um gradiente de perturbações ainda recente, o que, segundo Ferraz, o torna ideal para este tipo de estudo.

Cooperação internacional

Publicado na Nature, principal revista científica internacional, o estudo é fruto da Rede Amazônia Sustentável (RAS), um consórcio de instituições brasileiras e estrangeiras, coordenado pela Embrapa Amazônia Oriental, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade de Lancaster (Reino Unido) e Instituto Ambiental de Estocolmo (Suécia).

De acordo com Ferraz, o grupo inicial foi formado por pesquisadores da Embrapa, Reino Unido e USP e vários outros pesquisadores se associaram ao longo do projeto. “A USP participou do delineamento experimental, processamento de dados, análises e redação do artigo final”, esclarece o professor. Questionado sobre o financiamento do estudo, Ferraz não confirma a participação da USP, mas garante que ele veio de “diversas fontes”.

Espécies ameaçadas

A pesquisa também mostrou que as espécies com risco de extinção iminente foram as mais atingidas pelas perturbações causadas por atividade humana. Mais de 10% das espécies de aves do planeta estão abrigadas no estado do Pará, sendo que muitas delas são endêmicas – restritas à essa região – o que agrava a situação.

Conhecido mundialmente pela riqueza de sua fauna e flora, o Brasil tem travado uma luta contra a extinção de suas espécies nativas. O número de animais ameaçados de extinção aumentou 75% entre 2003 e 2014, segundo dados de 2014 do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O MMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apontam que mais de mil animais estão nessa situação, no País.

Dentre estas espécies, estão a arara vermelha, boto cachimbo, ariranha, jaguatirica, doninha amazônica, lobo-guará, macaco-prego, peixe-boi da Amazônia e o pica-pau-de-cabeça-amarela, todas encontradas na Floresta Amazônica.

Em contagem feita pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), o Brasil figura como segundo país mais rico em aves do planeta, com 1.832 espécies. Apesar disso, o país também está no topo de países com o maior número de aves em ameaça, de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Fonte: www.jornaldocampus.usp.br