Primeiro bebê com DNA de três progenitores nasceu no México

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Nasceu há cinco meses no México o primeiro bebê gerado por uma técnica que pode permitir que mães com doenças genéticas nas mitocôndrias (usinas energéticas das células) tenham filhos.

O feito, conduzido por médicos dos Estados Unidos, se aproveitou da ausência de legislação específica no país ao sul de sua fronteira. No ano passado, o Reino Unido foi o primeiro país a regulamentar a prática, exatamente para esse tipo de situação.

A descrição científica mais detalhada será feita em outubro, no Congresso Científico da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva. O feito, porém, já foi divulgado pela revista “New Scientist” nesta terça.

De acordo com os pesquisadores, é a primeira vez que um nascimento é gerado com essa técnica com a finalidade de evitar a transmissão da síndrome de Leigh, causada por defeitos nos genes das mitocôndrias.

Entre os sintomas da doença estão irritabilidade, vômito, diarreia, dificuldade em engolir e ganhar peso. A doença progride com perda do controle do movimento, paralisia corporal e dos olhos. A idade do início dos sintomas pode variar conforme a quantidade de mitocôndrias alteradas (há várias centenas de mitocôndrias em cada célula).

Em casos graves, a crianças afetada pode viver até os 6 ou 7 anos de idade –os dois primeiros filhos do casal de pais do bebê em questão morreram por causa da doença.

A porcentagem de mitocôndrias defeituosas que representa algum risco para a mãe é de 14% para cima, afirma o médico e geneticista Ciro Martinhago. No caso, a mãe, de 36 anos, tinha 24,5% de mitocôndrias alteradas.

“Nesse caso seria até perigoso ela passar por uma gravidez, que exige que o organismo produza energia para duas pessoas”, opina.

Nesse tipo de doença, a idade da mãe também é importante. É possível que as mitocôndrias afetadas tenham maior capacidade de reprodução, aumentando o risco para a próxima geração.

 

EMBRIÃO

O membro da Câmara Técnica de Reprodução Assitida do CFM Adelino Amaral afirma que no país a técnica de transferência de óvulo, apesar de ser baseada em um princípio de mais de 15 anos, ainda é considerada experimental –não há norma que proíba ou autorize a prática.

Segundo ele, e outros médicos ouvidos pela Folha, não há noticia de que algum bebê fruto dessa abordagem tenha nascido no Brasil, apesar de verem com bons olhos a possibilidade de prevenir doenças mitocondriais.

“Esse tipo de turbinagem de óvulo pode até melhorar a qualidade, mas é experimental. Quando a técnica é realmente boa, todo mundo reproduz. E você não vê um número grande de tentativas por aí”, diz Amaral.

No caso do bebê mexicano, cinco embriões progrediram para o estágio posterior, de blastocisto, mas apenas um deles não tinha alterações cromossômicas importantes (como as que geram as síndromes de Down, Patau, Turner ou Kleinefeler).

Um possível desdobramento desse nascimento é a possibilidade de recauchutar óvulos de mulheres mais velhas que estejam enfrentando problemas para engravidar, diz o médico especialista em reprodução assistida Flávio Garcia de Oliveira.

Segundo ele, pode-se pensar que o núcleo da célula, onde está a maior parte do genoma, é afetado pela senilidade do citoplasma, onde estão as mitocôndrias. “O maquinário fica fraco e não consegue cuidar do DNA do núcleo”.

Amaral tem opinião diferente. Para ele, “a carga genética continuaria velha, e o risco de doenças por causa da idade materna continuaria alto”.

Fonte: folha.uol.com.br